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Coletânea de escritoras esquecidas pelo grande público é o destaque do livro lançado em novembro de 2019 na capital gaúcha
Tarde de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre 2019: Roberta Asse, Cassia Leslie, Susana Ventura. Foto: Thaís Jardim
“Em geral, a borracha da História quando apaga, apaga mais e melhor os trabalhos feitos por mulheres”. Esta declaração das autoras Susana Ventura e Cassia Leslie deixa clara a missão do livro “Na Companhia de Bela: contos de fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII”: mirar os holofotes e revelar a obra literária de escritoras que, em sua maioria, não foram contempladas com a imortalidade da fama concedida aos best-sellers.
Publicada pela editora Florear Livros, com design e ilustrações de Roberta Asse, a coletânea de contos, selecionada a partir de ampla pesquisa literária e histórica, foi uma das atrações da edição 2019 da Feira do Livro de Porto Alegre. Com a participação de um milhão e 300 mil pessoas, o evento vendeu 226.971 livros e prestou a média de 20 mil atendimentos em 17 dias.
Na tarde de 12 de novembro, o público visitante conferiu o lançamento do livro “Na Companhia de Bela” na Praça da Alfândega, no Centro Histórico da capital gaúcha. À noite, Cassia Leslie, Susana Ventura e Roberta Asse promoveram o segundo lançamento em POA, na Livraria Baleia. “Em Porto Alegre, nós vivemos a emoção de ter o livro lançado numa feira que tem muita tradição. Já na livraria, pudemos juntar toda a equipe para apresentar a palestra, que foi muito bacana. Vamos tentar, na medida do possível, fazer de nossos lançamentos oportunidades de trocar experiências e propiciar formação, pois a abordagem que propomos é inovadora e apresenta material inédito no Brasil”, disse a autora Susana Ventura.
Exemplar do livro “Na Companhia de Bela” durante lançamento na Livraria Baleia, em Porto Alegre. Foto: Gabriela Silva
Nascidas a partir de 1650, as mulheres que compõem o elenco do livro “Na Companhia de Bela” têm em comum, majoritariamente, o quase anonimato e trajetórias que remontam à nobreza dos séculos XVII e XVIII. O termo contos de fada, popularmente conhecido em todo o mundo, foi cunhado por Marie-Catherine d´Aulnoy, uma das autoras apresentadas pelo livro. Marie, assim como outras escritoras da época, propunha, por meio destes contos uma espécie de jogo para contar histórias fantásticas e povoadas por figuras encantadas, como príncipes, princesas e fadas.
Mas nem tudo na biografia das autoras compiladas no livro “Na Companhia de Bela” era um “conto de fadas”. Marie-Jeanne de Lhéritier de Villandon, outra autora destacada na obra, não era nobre. Preferiu viver solteira em um período no qual o imaginário popular machista disseminava o casamento como um sonho feminino a ser perseguido. “Marie-Jeanne escreveu por encomenda, ajudou a compor biografias e escritos de várias amigas nobres. No período de que falamos, ter dinheiro e boa posição social não significava, necessariamente, saber escrever. Muito menos saber escrever bem”, observam Susana Ventura e Cassia Leslie.
Segundo as autoras, apesar de os contos terem sido escritos há muitos séculos, eles, de modo geral, estabelecem uma notável conexão com a atualidade. “Estes textos apresentam temáticas relacionadas ao presente em que nós, leitoras, estamos. Afinal, como as personagens dos contos, todos enfrentamos desafios que parecem, às vezes, impossíveis de serem superados, o que não nos impede de sermos felizes, apesar das circunstâncias adversas”.
O livro “Na Companhia de Bela: contos de fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII”, da editora Florear Livros, continuará sendo promovido em eventos literários, nas principais livrarias de todo o país e pode ser adquirido aqui.