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Esquecidas pela História, resgatadas pela memória: “Na Companhia de Bela” apresenta contos de fadas de autoras dos séculos XVII e XVIII

Coletânea de contos de fadas de autoria feminina foi lançada em São Paulo no início de 2020, ao final de um curso sobre o tema no SESC CPF

O livro “Na Companhia de Bela: contos de fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII”, essencial para fãs do gênero e pesquisadores de literatura. Foto: Divulgação.

Castelos, príncipes, princesas, fadas, animais mágicos e um universo fantástico que permanece vivo e celebrado até os dias de hoje. Iniciado na França do final do século XVII e início do século XVIII, o gênero conto de fadas ajudou os habitantes do país a enfrentarem um período turbulento de guerras, fome e desastres naturais por meio de uma escrita que privilegia o sonho, a fantasia, as infinitas possibilidades da imaginação humana. E não tardou para que esses contos se espalhassem e fossem traduzidos para outros países da Europa e do mundo, ganhando o coração de leitores por gerações e gerações.

Mas, assim como em parte das narrativas das encantadoras histórias, uma injustiça de séculos permaneceu, e é resolvida pelo livro. À exceção de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, autora do clássico “A Bela e a Fera”, todos os outros contos que conhecemos tão bem nos dias de hoje foram escritos por homens. Mas, afinal: onde estavam as outras mulheres autoras de contos de fadas?

Foi desta premissa que a escritora e pesquisadora do tema Susana Ventura partiu, se unindo à também escritora e editora Cassia Leslie  e à designer e ilustradora Roberta Asse para realizar o livro “Na Companhia de Bela: contos de fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII” (Londrina: Florear Livros, 2019), que resgata contos esquecidos de autoras femininas do período. Além de Beaumont, que tem histórias apresentadas na coletânea, outras escritoras têm seu legado revivido por essa obra tão importante e necessária para os nossos dias.

As autoras Susana Ventura e Cassia Leslie durante o lançamento da coletânea “Na Companhia de Bela” em janeiro de 2020, no SESC CPF, em São Paulo. Foto: Eduardo Arau.

“Marie-Catherine d´Aulnoy é a segunda autora apresentada. Ela era nobre e, como nobre, casou-se com um par também nobre. Por isso, em suas publicações, ela aparece como Condessa ou Baronesa. Teve uma vida cheia de aventuras e viveu a situação de exílio por boa parte da juventude. Ela inventou o termo ‘conto de fadas’ para batizar o que ela e muitos da época vinham fazendo como uma espécie de jogo de salão: contar histórias maravilhosas, cheias de príncipes, princesas, fadas, metamorfoses e circunstâncias inusitadas. Em 1697, ela publica o primeiro de seus volumes de contos, chamado ‘Contos de Fadas’”, contam as autoras Susana e Cassia sobre uma das incríveis personagens a quem somos apresentados no livro, que cunhou o famoso termo utilizado até hoje.

Além de Jeanne-Marie Leprince Beaumont e Marie-Catherine d’Aulnoy, a obra conta também com contos das autoras francesas Charlotte-Rose de Caumont de La Force, Marie-Jeanne Lhéritier de Villandon, Marie-Madeleine de Lubert e uma autora anônima.

Lançado primeiramente na Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro de 2019, a coletânea foi apresentada ao público paulista no dia 29 de janeiro de 2020. As duas autoras se uniram à escritora Maria Valéria Rezende, tradutora de contos da obra, para um lançamento especial no SESC CPF. O evento ainda abrigou um curso de quatro semanas sobre o tema, concluído com o lançamento na capital paulista. Publicado pela editora Florear Livros, a obra tem ilustrações de Roberta Asse, que já havia realizado outros projetos com Cassia e Susana, imprimindo seu estilo único em artes com a mágica temática do livro.

A composição de “Na Companhia de Bela”

Durante o processo de composição e produção de “Na Companhia de Bela”, as responsáveis contam que privilegiaram detalhes importantes para que os leitores atuais se sentissem ainda mais próximos dessas escritoras. Afinal, tal contribuição é imensurável para um gênero que segue representado em livrarias, desenhos animados e filmes.

“Cada composição do projeto gráfico apresenta camadas de significados, buscando aproximar o leitor do tempo em que viveram as autoras dos contos: formato e papel próximos daqueles que as escritoras praticavam suas leituras e escritas, vinhetas, cores, adornos, tipografia etc. Simultaneamente, procuramos estabelecer diálogos criativos entre o repertório de época e a contemporaneidade, com a criação de infográficos sobre as autoras, por exemplo. As ilustrações extrapolam o sentido dos textos, podendo ser consideradas verdadeiras obras de arte”, revela Roberta Asse.

Para Cassia e Susana, a oportunidade de apresentar este projeto em nosso momento histórico é a chance de exaltar obras importantes, pouco lembradas e que seguem dialogando com os leitores atuais: “É bom viver num tempo em que há receptividade para ‘descobrir’ o passado e recolocar as mulheres nos lugares que ocuparam e que a ‘escrita da História’ esqueceu. No caso específico dos contos de fadas, a questão passa também pela História das edições. As pessoas editam o que faz sucesso e, com o passar do tempo, tendem a editar as mesmas coisas, esquecendo coisas belas e, até mesmo, essenciais”.

As autoras seguem divulgando a obra pelo Brasil afora, buscando um público leitor que, como elas, possam se interessar por esse crucial resgate de contos de fadas repletos de anseios, sonhos e objetivos de mulheres que viveram e produziram obras literárias naquele período.

Ficou curioso(a) para ler? A coletânea “Na Companhia de Bela: contos de fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII” pode ser encontrada em livrarias de todo o País e na loja da editora Florear Livros.